Renata Fornari, especialista em autoconhecimento e autoamor, analisa por que tantas pessoas se cobram por metas não cumpridas no fim do ano
O mês de dezembro costuma trazer mais do que festas, confraternizações e balanços de fim de ano. Para muitas pessoas, ele marca um período de intensificação da ansiedade, da comparação e da sensação de que “não foi feito o suficiente”. Com a proximidade do novo ciclo, uma pergunta se repete: “Por que eu não dei conta do que prometi em janeiro?”.
Segundo Renata Fornari, especialista em autoconhecimento e autoamor, a resposta não está relacionada à falta de disciplina ou força de vontade. “O problema não é esforço. O que faltou, na maioria das vezes, foi sustentação emocional para atravessar o processo”, explica.
A especialista afirma que dezembro funciona como um espelho emocional. “As pessoas não estão lidando apenas com o que aconteceu naquele ano, mas com um acúmulo de metas adiadas de outros anos. Isso gera a sensação de repetição, de ‘mais um ano passou e eu estou no mesmo lugar’”.
Renata destaca que a procrastinação, muito comum ao longo do ano, não deve ser interpretada como preguiça, mas como um mecanismo inconsciente de proteção. “Muitas pessoas têm medo do desconhecido. A ideia de uma vida mais realizada, mais próspera ou mais feliz pode ser emocionalmente ameaçadora para quem cresceu em contextos de instabilidade. O cérebro prefere permanecer no que é difícil, mas conhecido, do que arriscar algo novo”.
Nesse contexto, ela aponta quatro padrões emocionais frequentes, conhecidos como armaduras emocionais, que interferem na realização de metas:
1. Sabotadora: “É quando a pessoa quer avançar, mas teme que dar certo custe algo importante, como amor, pertencimento ou liberdade. Para evitar essa dor, interrompe o caminho antes do fim”.
2. Invisível: “São pessoas que aprenderam cedo a não incomodar e a não desejar demais. Sempre que tentam crescer, algo as puxa de volta para o pequeno e seguro”.
3. Controladora: “É quem tenta dar conta de tudo sozinha. De tanto controlar e sustentar, esgota a própria energia e perde fôlego no meio do processo”.
4. Autossuficiente: “É aquela pessoa que aprendeu que depender machuca. Usa a força como escudo, resolve tudo sozinha, mas paga um preço alto: cansaço emocional e solidão silenciosa”.
Renata reforça que nenhuma dessas reações é defeito. “São estratégias emocionais antigas, aprendidas para sobreviver. O problema é que, em dezembro, elas ficam mais evidentes e vêm acompanhadas de autocrítica”.
A especialista alerta ainda para a importância de diferenciar frustração de fim de ano de quadros que exigem atenção médica. “É normal sentir desânimo ou frustração ao revisar o ano. Mas quando isso vem acompanhado de alterações importantes no sono, no apetite, falta de energia para atividades básicas ou quando o desânimo persiste por meses, é fundamental buscar avaliação profissional”.
Outro fator que intensifica o sofrimento emocional em dezembro, segundo Renata, é a cultura da comparação e da hiperprodutividade. “Vivemos em uma sociedade que associa valor pessoal a desempenho. Muitas pessoas acreditam, inconscientemente, que só merecem amor e reconhecimento quando estão produzindo. Isso gera culpa ao descansar e uma cobrança constante”.
Para ela, o balanço de fim de ano pode ser saudável, desde que não seja feito a partir da culpa. “O objetivo não é se punir, mas olhar com honestidade: o que não funcionou, o que funcionou e quais pequenos ajustes são possíveis. A autocrítica excessiva paralisa. A consciência liberta”.
Renata conclui reforçando que dezembro não precisa ser um mês de autopunição. “Você não falhou. Você se protegeu. Quando entende isso, a pessoa para de se atacar e começa a se escutar. O que foi prometido em janeiro não morreu, apenas precisa ser retomado com mais verdade, menos armadura e mais respeito pelo próprio ritmo”, finaliza.





