Muito além de uma dor de cabeça comum, a enxaqueca é uma condição neurológica crônica que atinge cerca de 30 milhões de brasileiros e representa hoje a segunda principal causa de incapacidade entre os adultos, aponta levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo com alta prevalência, a doença é subdiagnosticada e cercada de mitos que dificultam o tratamento eficaz.
Dra. Jackeline Barbosa, neurologista e vice-presidente da área médico-científica da Herbarium, indústria farmacêutica referência em fitoterápicos, explica que ao contrário de uma dor de cabeça comum, a enxaqueca pode durar horas ou até dias e é frequentemente acompanhada de sintomas debilitantes, como náuseas, vômitos, sensibilidade à luz, ao som e a cheiros, além de alterações visuais.
“A doença costuma se manifestar em crises episódicas, com dores geralmente latejantes e unilaterais, que podem comprometer significativamente a capacidade de trabalhar, estudar e manter uma vida social ativa”, ressalta a médica. “Seus gatilhos variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns incluem estresse emocional ou físico, privação de sono, variações hormonais, como durante o ciclo menstrual, gravidez ou menopausa, mudanças de temperatura ou pressão atmosférica, ruídos intensos e alguns alimentos, como chocolate, queijos, vinho e ultraprocessados”, esclarece.
Enxaqueca em números
Segundo o estudo “The Prevalence and Impact of Migraine and Severe”, a enxaqueca afeta principalmente mulheres em idade reprodutiva, devido às variações hormonais. Atualmente, cerca de 1 em cada 5 mulheres é acometida. Já entre os homens, 1 em cada 16 sofrem de enxaqueca. No entanto, a doença pode se manifestar na infância, atingindo 1 em cada 11 crianças. “A causa exata da enxaqueca ainda não é totalmente compreendida, mas fatores genéticos e ambientais desempenham um papel importante. O diagnóstico é clínico e exige acompanhamento médico, especialmente em casos com mais de quatro episódios por mês”, explica a neurologista.
Fases da enxaqueca
Dra. Jackeline comenta que a enxaqueca costuma evoluir em até quatro fases distintas, o que pode ajudar o paciente a reconhecer o início de uma crise:
1. Pródromo: pode ocorrer até 24 horas antes da dor, com sinais como alterações de humor, insônia e dificuldade de concentração.
2. Aura: pode aparecer de 5 a 60 minutos antes ou durante a crise de dor de cabeça intensa e inclui distúrbios visuais, fraqueza muscular e zumbidos, além de dificuldade de fala ou sensação de formigamento.
3. Crise da dor: dura de 4 a 72 horas, com dor intensa, unilateral, e sintomas como náuseas, vômitos e sensibilidade a sons, luzes e odores.
4. Pósdromo: fase final, com duração de até 48 horas, marcada por cansaço extremo, rigidez no pescoço e dificuldade cognitiva.
Tratamentos disponíveis para a enxaqueca
A neurologista explica que o tratamento da enxaqueca pode ser dividido em três frentes principais. A primeira é focada nas crises, com o uso de analgésicos e medicamentos específicos para aliviar a dor e os sintomas durante os episódios. Dra. Jackeline reforça que há disponível no mercado medicamentos fitoterápicos para quem busca uma abordagem mais natural. A segunda é o preventivo, indicado para quem sofre de crises frequentes, com o objetivo de reduzir a intensidade, a duração e a recorrência dos episódios por meio de medicamentos prescritos de uso contínuo. Por fim, há a educação do paciente, que envolve o entendimento dos gatilhos, sintomas e fases da doença, permitindo um manejo mais eficaz e consciente da condição.
“O tratamento ideal envolve uma combinação de abordagens farmacológicas e mudanças no estilo de vida, como alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos, regulação do sono e gerenciamento do estresse”, destaca a neurologista da Herbarium. “A recomendação é buscar orientação médica para obter um diagnóstico e acompanhamento adequado para minimizar as crises”, reforça Dra. Jackeline.
Segundo a médica, normalizar episódios frequentes de dor é um erro comum. “No entanto, é fundamental entender que quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de controle efetivo das crises e da redução de impactos emocionais, sociais e profissionais. Não podemos normalizar aquilo que nos limita”, conclui.
Pâmela Moretti 11 980853230 [email protected]